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Quem ama deve amar, apesar dos erros.

Ao abrir os olhos, notei que estava em um lugar diferente. Meu corpo estava dolorido e minha cabeça latejava. Talvez fosse um sonho. Mas logo percebi que não era. Ao olhar pro lado, eu a vi sentada em uma cadeira. Seu rosto estava um pouco inchado e as olheiras eram visíveis, apesar de ela estar dormindo. Eu estava em um hospital. Logo notei que ela segurava minha mão, e por estar bem quentinha, percebi que ficou assim durante muito tempo. 
Então ela despertou, soltando minha mão e espreguiçando, com um intenso bocejo.

- Amor? Como você esta? – perguntou ainda sonolenta e preocupada, enquanto esfregava os olhos.
- Estou bem! Eu acho... – senti um gosto amargo na boca . – O que estou fazendo aqui? – me sentia confuso.

- Ontem você resolveu me dar um susto. Desmaiou na calçada assim que saiu da minha casa.
- Eu não me lembro bem. Minha cabeça dói um pouco. – tossi. – O que houve?
- O médico disse que você vai ficar bem. Você só teve uma queda forte de pressão, mas agravou por conta do estresse e a má alimentação.
- Espero! Eu quero sair daqui logo. Tenho que ir pra casa...
- Pode ficando quietinho ai mocinho! – dizia com um tom de voz bastante carinhoso.
- Ah! – bufei. – Tudo bem! Vou esperar... – fechei os olhos.

Houve um certo silêncio naquele momento. Ela me olhava atentamente e esperava que eu dissesse algo. Meu olhar seguiu em direção ao teto. Ela baixou a cabeça e deixou que as lágrimas caíssem lentamente.

- Ei?! O que houve? – falei baixinho.
- Nada! Nada de mais.. – disse ela secando as lágrimas com a manga do casaco.
- Desculpe... Eu não queria ter lhe dado trabalho.
- Não seja idiota! Você não me deu trabalho algum! Apenas me deu um pouco mais de tempo contigo... – então suas lágrimas corriam como dois rios em seus olhos.
- Eu não estou suportando te ver chorar. – senti um aperto no coração.
- Desculpe... Acho que já vou indo... – levantou-se da cadeira. – É o melhor. 
- Tem certeza? – franzi o cenho.
- Sim. Tenho que agilizar minha vida também. – fungou e em seguida sorriu.
- Tudo bem. – sensação de frustração nesse momento.
- Então... Já vou indo. Fica bem, tá... – virou-se de costas e abriu a porta. – Até mais!
- Até. – fechei meus olhos antes que a porta se fechasse.
- Anjo! – gritei.
-Oi? – disse ela esperançosa olhando para trás.
- Obrigado, ta! Obrigado por ter ficado aqui comigo...
- Relaxa. – fungou. – Não fiz nada de mais. Afinal, você é o cara que eu amo. – sorriu e em seguida baixou a cabeça se seguiu em frente.

Eu não disse mais nada até que ela fosse embora.

-//-

Duas semanas haviam se passado desde a última vez que eu a vi. O dia estava frio. Eu como qualquer pessoa tinha um lugar favorito. Como a muito tempo não fazia isso, caminhei até um Pier que fica próximo ao centro da cidade. Sentei-me em um dos bancos que ficam no canto. Enfiei as mãos dentro dos bolsos do seu casaco de moletom. Fiquei um tempo ali, parado, apenas observando o horizonte. Até que uma pessoa chega e se senta ao meu lado. Era ela.

- Você? – franzi o cenho intrigado.
- Eu... – ela sorriu.
- O que faz por aqui? Esta bem distante de casa moça! – comentei entre sorrisos enquanto a observava.
- É... Sei que estou longe. Mas eu precisava vir aqui. – seu olhar se fixou no horizonte enquanto falava.
- Não sabia que curtia refletir a respeito da vida nesse aqui também. – comentei ironicamente.
- Pois é! Eu curto. –sorriu. – Tem muitas coisas sobre mim que ainda não sabe. E além disso, tinha a certeza que para te encontrar, só precisaria vir até esse Pier.
- Então parece que você sabe muito sobre mim. Muito mais do que eu sei sobre você.
- Pois é. – respirou fundo.
- O engraçado é que hoje não esta ventando. – quebrei o breve silêncio que havia se formado.
- Pois é. Eu queria que ventasse. – continuou olhando o horizonte.
- Enfim, né... – pigarreei.

O silêncio persistiu enquanto olhávamos adiante.. Uma pequena brisa fria pode ser sentida naquele momento. A luz central do Pier se acendeu. O dia havia começado a escurecer.

- Só vim aqui para me desculpar. – disse ela baixando a cabeça.
- Não precisa. Não mais... Vamos esquecer isso.
- Não posso esquecer, porque é impossível esquecer você.
- Podemos ser amigos. – tentei dizer da maneira mais carinhosa.
- Acho que isso é tudo o que me resta, não é? E devo mesmo me contentar com isso, apesar de saber que minhas lágrimas vão durar para sempre. – após dizer isso ela pigarreou e tossiu, em seguida fungou e notei seus olhos se umedecerem.
- Por favor, não chore... – supliquei.
- Não vou chorar. – sorriu entre lágrimas secando os olhos com a manga do casaco. – Só queria que você soubesse que... – seus olhos estavam quase transbordando, mas ela não me olhava. Prendeu o choro e prosseguiu. – Só queria que soubesse que eu amo você. Tenho ciência do meu erro. Sei que o que fiz foi realmente imperdoável. Não poderia pedir seu perdão, porque nem mesmo eu me perdôo por ter bebido daquele jeito e perdido nosso bebê, mas quero que saiba que você vai esta pra sempre em minhas orações! Você vai ser muito feliz...
- Você também vai ser muito feliz! – segurei sua mão.
-Shiu! Apenas me ouça... – disse pondo o indicador em minha boca . – Seja feliz. Você merece isso! Me esqueça... Esqueça o que eu fiz e siga em frente! Essa dor tem que ser apenas minha! Eu sinto muito por tudo o que fiz... 
- Eu vou ser feliz. - suspirei.
- Me promete? - insistiu.
- Prometo!

Ela então sorriu e ficou me observando. As lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Então as sequei com meu polegar.

- Bom, acho que já vou indo antes que fique tarde. – juntou as mãos e foi se levantando.
- Tudo bem. – baixei a cabeça.

Ela olhou mais uma vez em minha direção. Em seguida olhou o horizonte. As palavras nem precisavam ser ditas. Seu olhar era aquele de quem diz: “Eu tentei...” Sorriu e foi caminhando até o fim do Pier de braços cruzados. O vento soprou um pouco mais forte e gelado nesse momento. Seus cabelos se moviam na direção do rosto e colavam nas lágrimas.



- Anjo! – gritei. Ela olhou para trás com seus braços encolhidos tentando proteger-se do frio. – Se cuida! E não chore! Não quero a futura mãe dos meus filhos com olheiras ou doente! – ambos sorrimos ao mesmo tempo. Afinal, apesar de tudo, nos amávamos.


Martins, Pierre - Araruama, RJ - 04 de Novembro de 2015.

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