Hoje, após pegar no sono, mais uma vez abri meus olhos na
nave de Mahat. Corri apressadamente pelos corredores até a sala da grande
janela e o cenário foi o mesmo da penúltima vez. Nada além de uma pequena
mesinha e uma carta sobre ela. – Mahat mandou notícias. – pensei. Corri até lá
e peguei a carta afim de ler. Nela dizia:
Desculpe-me por te trazer abordo mais essa noite. Sei que
vai achar estranho estar em minha nave mais essa noite sem que eu esteja aqui.
De fato, apesar de ser uma nave interestelar, meu velho disco não é capaz de
acelerar no tempo que preciso a distancias tão grandes quanto as que estou
hoje. Um velho amigo que habita uma superterra na galáxia de Dunken, a dois
bilhões de anos luz da sua Via - Láctea decidiu me acompanhar em minha busca e
estamos em sua nave que é muito mais veloz que a minha. Nesse momento, estamos
na metade do caminho até o centro do Universo. Espero achar os sistemas solares
mais antigos nessa região.
Achei que seria legal mandar as primeiras notícias de minha
jornada. Nossa meta é chegar ao planeta Taured que fica na super galáxia de
Mansur. Descobri nos registros que lá se encontra a civilização mais distante que
já nos contatou a muitos e muitos anos atrás. Acredito que lá seja a fronteira
da paz de planetas amigos que possamos ter. Dali em diante é o desconhecido
para nós. Precisamos pegar as coordenadas com aquele povo. Ouvi histórias incríveis
sobre eles e estou animado por ir tão longe!
Sei que tem certo receio quanto aos meus colaboradores que
você chama de greys. Deve sim temê-los, pois são seres perigosos por serem
curiosos e não tem nenhum tipo de sentimento nobre. Não se deixe enganar por
qualquer grey que o visite. Mas os meus amigos cinzentos são pacíficos e muito
respeitadores. Em outra oportunidade lhe conto como aprendemos a nos dar tão
bem. Eles estão encarregados de protegê-lo!
Deve se perguntar como lhe escrevo de tão longe. Bom, sua
sociedade já deu os primeiros passos para a descoberta da física quântica. Se
ler um pouco sobre o entrelaçamento quântico vai entender melhor como funciona
minha comunicação com meus amigos cinzentos.
Em conversa com meu amigo e companheiro de viagem, o Zack, abordamos a história de uma sociedade amiga que tivemos e que se extinguiu a alguns milhares de anos sem que nada pudéssemos fazer. Achei que deveria lhe advertir a respeito de certas coisas que aconteceram com os seturianos, afim de que você passe esse conhecimento adiante. Lá eles evoluíram muito tecnologicamente e desenvolveram até mesmo formas de não morrer naturalmente, até mais eficientes do que as de nós, arianos. Por ser uma sociedade envelhecida e conservadora, não se preocuparam em desenvolver sua exploração espacial. Por habitarem um sistema onde só haviam dois planetas rochosos e o restante gasoso, as vastas distancias para encontrar novos mundos acabou sendo desestimulante. Com o passar dos anos e uma população que jamais morria por causas naturais, ter filhos já não era permitido, a não ser que você pagasse um alto custo. Então esse planeta se tornou cada vez mais deprimente. A superpopulação acabou por esgotar todos os recursos naturais e nem mesmo havia condições de desenvolver tecnologia para sair de lá. Nós tentamos ajudá-los durante milhares de anos, mas sempre evitaram o contato com outras sociedades, apesar de serem pacíficos. Um belo dia uma explosão de raios gama aconteceu nas redondezas daquele planeta e o fecho de radiação fritou tudo por onde passou. Havia uma chance em duzentos milhões de que esse fecho acertasse Seturin, mas essa catástrofe aconteceu. É como vocês terráqueos dizem, a “lei de Murphy” não perdoa ninguém.
Amigo, seja prudente. Não deixe de expandir seu conhecimento
e não deixe de fazer amigos por onde passar. Explore as coisas a sua volta e
jamais permita que a falta de conhecimento afogue você no esquecimento. Não
conte com a sorte! Nunca se sabe o que virá no próximo segundo. Seja sábio nas
suas decisões e jamais faça algo sem analisar suas conseqüências. Tudo no mundo
tem um tempo limite. Explorar o universo é apenas ganhar uns dias a mais. Viva
intensamente, mas com prudência. Um dia eu vou conhecer meu fim, pois assim
como os seturianos, meu corpo não é indestrutível, mas apenas durável. Pense
nisso, pequeno padauã.
Deixei uma bela imagem na janela. Espero que aprecie
enquanto lhe sobrar tempo.
Um grande abraço!
Do seu amigo,
Mahat Zoratti.
Quando olhei pela janela, vi um lindo planeta semelhante a terra. Haviam diversos continentes e algumas nuvens. Pude notar que era orbitado por duas luas. Mahat me deu uma bela paisagem para observar essa noite e me mostrou mais uma vez o quanto o universo é lindo, apesar de ter me mostrado o quanto é perigoso através da carta. Mas na verdade, ele tem razão nas coisas que disse. Foi o que pensei enquanto observava o planeta a minha frente. Não lembro o momento que parti, mas acordei feliz.
Martins, Pierre – Iguaba Grande/RJ – 11 de julho de 2015.
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