Ontem mais uma vez, após pegar no sono, me vi dentro daquele
quarto luxuoso da nave de Mahat. Então como de costume fui até aquela mesma
sala de sempre. Dessa vez, para minha surpresa não havia ninguém. Apenas a sala
escura e nem mesmo as luzes se ascenderam. Quando olhei a janela a minha
frente, vi uma imensa estrela que logo iluminou toda a nave com seu intenso
brilho. Nesse momento percebi que a nave estava girando. Logo a luz da estrela
deixou de estar a minha frente e então surgiu um planeta diante dos meus olhos.
Havia uma névoa espessa pairando sobre sua superfície. Por alguns instantes
imaginei ser Vênus, mas logo em seguida vi ao longe, no horizonte um outro
planeta orbitando esse. Meu coração acelerou e pensei na Terra. Enquanto a
janela seguia seu curso giratório, hora exibindo a estrela, hora os planetas,
fui lentamente permitindo que o desespero invadisse meu corpo. – É o fim da
Terra! – pensei. Para meu espanto, pude perceber inúmeros destroços metálicos
orbitando aqueles planetas. Então, com meus olhos arregalados, percebo que
havia um abajur sobre uma mesa pequena, localizada um pouco a esquerda da
grande janela. Sob o abajur, pude ver uma caneta tinteiro sobre um papel. Sem
perder tempo, corri até lá afim de ler o que estava escrito. Para minha
surpresa era uma carta destinada a mim. Nela dizia:
Caro amigo,
Sei que tenho tomado suas noites de sono por vários dias.
Sei o quão difícil tem sido assimilar todas as coisas que conversamos. Entenda
que o que faço é para o bem de muitos, para que haja a chance de um novo nascer
do sol em seu planeta por mais alguns anos e que depois que o sol se for, vocês
sejam capazes de encontrar um novo lar.
Sinto muito por hoje não estar ao seu lado para
conversarmos. Infelizmente os motivos devem permanecer ocultos, afim de que sua
segurança seja poupada. Mas procure entender que o mais importante é perceber o
que há nas pequenas coisas e o que elas representam para um todo. Um dia
ensinei a um jovem físico que é a energia que forma as pequenas coisas. E ele
ensinou a seu mundo que são essas pequenas coisas que dão vida a coisas tão
grandes como estrelas e tão importante como nós, humanos. Então, sabia que
bondade, amor, humildade, honestidade, são formas incríveis de energia e que
tem um poder imenso. A matéria nada seria se não houvesse energia. O Universo
nada será se um dia perdermos a bondade, o amor, a humildade e a honestidade.
A sua frente está Argon . Seus habitantes foram a sociedade
que encontramos mais próxima a humanidade de seu planeta em termos cultural,
evolucionário e social. Assim como a Terra, Argon orbita seu Sol a cada 365
dias, em uma orbita levemente elíptica. Isso fez com que tivesse estações do
ano muito semelhante a de vocês. Também tinha uma rotação de 24 horas. Era
quase a mesma massa e volume, e também tem essa grande Lua em sua orbita. Quando
a sociedade argoniana chegou ao fim, eles eram apenas cem anos mais evoluídos que
vocês são hoje.
Sua população cresceu de maneira desordenada. Um dia os
recursos naturais se esgotaram e as pessoas tornaram-se irracionais. Primeiro
pensaram apenas na sobrevivência da família, depois apenas em sua própria.
Então deixaram de ser sociáveis e destruíram uns aos outros com guerras
nucleares, poluição e por fim as doenças. Deixaram o planeta inabitável.
Sei que está pensando muito nisso agora, mas realmente é o
rumo que os terráqueos vem tomando. Consomem mais do que devem e crescem mais
do que o planeta suporta. Para uns, a humanidade agressiva da Terra é uma
doença planetária. Eu acredito que as coisas podem ser diferentes. Você pode
mudar o mundo, assim como outros mudaram por tantos outros motivos.
Seu povo precisa evoluir e não estou falando em tecnologia,
mas em espécie. Só assim terão a chance de conhecer um futuro duradouro.
Gostaria que nesse momento apenas olhasse para Argon e
refletisse. As vezes devemos olhar para aquilo que nos trás medo para que
encontremos as respostas que tanto precisamos.
Logo você acordará em casa.
Um grande Abraço,
Mahat Zoratti.
Então permaneci ali por um longo tempo olhando aquele
planeta condenado ao esquecimento. Um dia todas as coisas vão acabar e não
temos como fugir disso, mas não seria nosso dever como humanos lutar por nossa sobrevivência,
nossa perenidade no universo? Acho que se não formos capazes de cuidar de nosso
pequeno planeta, jamais poderemos sair daqui para caminhar por outros mundos.
Não por apenas incapacidade, mas por falta de merecimento.
Martins, Pierre – Iguaba Grande/RJ – 06 de Julho de 2015.
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