Depois de um dia turbulento, deitei-me em minha cama e como num flash, cá estava eu acordando na cama que mais parecia o leito de um Sudão. Levantei-me e calcei os sapatos engraçados e percorri o caminho até a velha sala onde encontrava Mahat. Ele estava com algo na mão. Logo percebi que se tratava de um instrumento musical de sopro, em forma de concha. Então ele começou a tocar uma música. A tranqüilidade daquele tom era incrível! Quando fechei os olhos, me vi em meio a um jardim. Eu podia até sentir o cheiro das flores! Eu fiquei ali por algum tempo ouvindo, enquanto se entregava naquele som incrível. Então, quando a melodia cessou, fui até ele.
- Um ótimo instrumentista! – exclamei.
- Nem tanto. – disse ele sorrindo com modéstia.
- Como não? – continuei. – Som lindo! Maravilhoso! Eu pude me sentir em um jardim enquanto tocava.
- É que essa musica é mágica. – seu tom era de humor.
- Sei que sempre tem uma boa história por trás disso.
- Acho que você tem aprendido bastante, pequeno Padauã.
- É de Ária? – perguntei.
- Sim, - disse ele olhando para o instrumento. – é de Ária. – pigarreou. – Aqui, vocês cantam o hino nacional de suas nações em suas escolas sempre antes de as aulas começarem.
- Cantávamos. – disse eu interrompendo.
- Sim, - sorriu. – cantavam. – continuou. – Lá em Ária, nós costumávamos fazer algo parecido. Não cantávamos um hino nacional, mas todos os alunos, juntos em formação, tocavam essa mesma musica nesse mesmo instrumento. Ela representa Ária, o planeta. Isso nos faz lembrar na nossa natureza, das nossas raízes, enfim, de quem realmente somos.
- Acho legal ter uma única musica representando um mundo inteiro.
- Quando houve a grande guerra, essa musica ecoou por todo o planeta quase diariamente. Deixamos de ser patriotas para nos tornarmos arianos. Deixamos nossas diferenças de lado para valorizar tudo aquilo que nos fazia parecer um com o outro. Assim como vocês terráqueos, tínhamos diversas formas de ver o mundo. Haviam culturas diferentes, opiniões diferentes, cor de pele diferentes... É triste saber que em todos os planetas que existam humanos, essas diferenças acabam criando conflitos entre povos. Em alguns, como a sua Terra, brancos escravizam negros e em outros, negros escravizam brancos. O único padrão é que sempre a maioria escraviza a minoria. Demoramos milhares de anos para descobrir isso em Ária, mas acabamos evoluindo nossa sociedade depois daquele genocídio.
- Aqui isso só está na cabeça de algumas pessoas. – comentei.
- Não, - ficou sério. – aqui está bem pior. Olhe para seu planeta. – disse ele apontando pela janela, e eu olhei e vi o quanto nosso planeta é magnífico. – Quem manda aqui não são brancos ou negros, mas quem tem mais recursos. Seu planeta é um forte candidato a se associar aos reptilianos. Os homens da Terra são pequenos e interesseiros! Mentirosos, iludem os menos favorecidos afim de continuar mantendo seu poder. E menos favorecidos, também corruptos, se deixam levar pelas facilidades em contribuir com o sistema. Não existe honra entre a maioria dos homens da Terra! Um dia o dinheiro que comanda seu mundo, através da economia mundial frágil vai levar sua sociedade a ruína. E haverá um grande genocídio, pois muitos vão morrer por comida e água. É instinto humano! Não é uma profecia, afinal, não detenho poder de saber o futuro, mas é uma previsão do que acontecerá, mais cedo ou mais tarde. É um fato!
- Podemos evitar isso? – perguntei.
- Eu não sei.
- Estamos destinados ao fim? É isso?
- Homens se levantaram para salvar seu planeta, mas sempre são ridicularizados. Falam de Natureza, comunhão, fé, amor... E o resto de vocês age como se eles fossem loucos! Loucura é destruir o lugar que criou vocês! Vocês são parte de seu planeta. Uma continuação do que ele é. Todos descendem do mesmo lugar: a Terra. Vocês devem aprender a viver em comunhão, respeitando seus pontos diferentes. Dessa forma a engrenagem da vida vai funcionar. E você é a gota no oceano que fará a diferença. Se cada um dos poucos que existem com mente aberta fizer sua parte, tudo vai mudar.
- Realmente, você é um velho, Mahat! – gargalhei. – Mas é muito sábio!
- Apenas tenho alguns anos a mais que você. – sorriu ironicamente.
- Muitos anos! – completei. – A propósito, qual o nome desse instrumento?
- Éden. – sorriu. – Agora acorde! Você se atrasou quinze minutos!
MARTINS, Pierre – Araruama/RJ – 25 de junho de 2015.
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